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sábado, 17 de novembro de 2007

Deus é bom(?!).

Sempre vejo alguém passar um perrengue e chorar até que a confusão passe. Aí, o bacana vem e diz: “Deus foi muito bom pra mim!”.

Leva a mal não, mas, só posso achar que isso vem do senso comum “cultura religiosa no Brasil” aliado à euforia vinda do alívio da situação. Porque eu acho isso: Se você parar pra ver a realidade como ela se mostra no geral sem as lentes coloridas da religião, você vai perceber que há coisas que acontecem e coisas que não acontecem. Sem terceiras alternativas.

Dizer que você se deu bem porque Deus olhou por você naquela hora poderia ser configurado como egoísmo. Afinal, porque olhou por você e não por outro? Você mereceu mais? (Olha que tem gente que pensa assim mesmo!). Já conheci gente que, realmente, acha que se Deus não olhou por você, foi porque alguma você aprontou(?!). Como assim? Oras, por exemplo, já ouvi dizerem que é normal haver tanta pobreza na Índia, ou na Etiópia porque, no primeiro, eles têm a vaca como animal sagrado (e não o Deus seletivo, ciumento e possessivo daqui) e no outro, as entidades de adoração são outras. Daí você entende o que eu quero dizer com “Deus seletivo, ciumento e possessivo daqui”. Só sendo muito mesquinho pra deixar na merda alguém que não segue sua “cartilha”, até porque, no frigir dos ovos, (quase) todos somos humanos. E olha que ainda nem postei sobre as “chantagens” políticas e religiosas ao longo da história para fins de dominação de massas.

Não há como não lembrar dos casos recentes do acidente com o avião da TAM quando aproximadamente 200 pessoas morreram. Lembro de ter visto uma manchete em algum jornaleco sensacionalista sobre alguém que teria se atrasado para o vôo, ou o mesmo teria sido transferido de horário. O camarada vai e diz que foi a mão de Deus. Ou aquele caso do acidente em que um ônibus bateu e capotou numa rodovia (não lembro direito). Naquele fato, um homem sobreviveu e ajudou a socorrer outras pessoas. Numa entrevista, ali mesmo no local, ele dizia como Deus foi bom pra ele e, minutos depois, um motorista de caminhão desatencioso bateu no veículo capotado matando o cinegrafista e o próprio sobrevivente. Deus?

O mote deste post não é exatamente a discussão religiosa. Simplesmente vi uma (mais uma ou outra) notícia de bala perdida. Dessa vez foi num menino de uns 9 anos que, apesar da bala alojada próxima à coluna, passa bem e terá uma vida normal *. O que me incomodou mesmo (na verdade, me deixou triste e pensativo) foi a ênfase da mãe na bondade de Deus, na fé que ela tem e todo aquele papo que conhecemos. Pensei em todos os outros casos que Deus não olhou.

Fico feliz pela família, mas acho que seria cruel para uma família ter uma filha paraplégica, uma filha alvejada em fogo cruzado ou um filho arrastado pelas ruas por um carro roubado e ouvir que Deus olhou por outros que não os deles.

* Para este comentário, desconsidera-se, momentâneamente, a realidade em que vivemos).

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