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sábado, 16 de março de 2013

Funk: A voz dos excluídos


Aposto que você, ao ler o título, já torceu a cara e pensou "bleh, funk não é cultura, é p*utaria", mas se você ultrapassou a barreira do preconceito e chegou até essas mal traçads linhas digitais, muito que bem, façamos deste momento um tempo gostoso pra se divagar sobre a cultura e os conceitos envolvidos.

Música Lek Lek
Esse é o hit instantâneo do momento e você tem todo direito de chiar com essa música
grudenta no cérebro, mas admita, isso não é indecente, é só mais um sucesso da última
semana. 
Funk é sim a voz dos excluídos, como o Samba (maiúsculo, de raiz, de fé e de fato), como cantigas de ciranda e canções de ninar. Mas se essa voz é desafinada, feia e até indecente - em muitos MUITOS casos, seria por quê? Pense na problemática da criminalidade, aquele bandido que se faz em zonas esquecidas pelo Estado, em como ele se vê no dilema entre ser discriminado pela sociedade por ser favelado e ser uma autoridade notória dentro da sua comunidade. O que você escolheria, se você não visse chances na vida pra ser uma pessoa de bem, com um emprego respeitável e o sustento garantido para sua família?

Muito fácil dizer que isso não é desculpa, se não, todo favelado seria bandido e não haveria corrupção entre gente rica, o que nos faz remeter ao caráter. Sim, não é desculpa. Também não justifico essa possível inveja dos que têm oportunidades na vida, já que se você não sabe de onde vem seu problem, não é roubando de pobre e trabalhador ou oprimindo sua vizinhança que você vai conquistar respeito. Com certeza medo, mas assim que você cair, vai haver uma festa animada em comemoração ao seu desfecho.

Carolina Macedo, Solange em Fina Estampa, "chegou lá" para admiração
de sua mãe, que do seu mundo, viu com admiração o sucesso da filha, que
cantava sobre ser 10 indo até o chão, mas um fracasso na escola.
A questão aqui é um pouco mais profunda, é sobre o cara que cresce onde não existe educação regular e se houver, você vai passando pra nõ gerar números negativos para o governo, mas a educação mesmo não é ensinada, no sentido acadêmico. Você chega ao ensino médio e mal sabe ler, vai para a escola e lá você não tem desafio, estímulo, só a automatização de um serviço pra inglês ver. O que fazer? Faz igul à menna da novela Fina Estampa, que criou uma letra (?!) falando que preferia rebolar o rabo do que estudar porque não ia se dar bem mesmo na escola.

Então, ao se referir ao funk, procure refletir sobre isso, eles não falam nada de agregador culturalmente pra você que não vive aquela realidade, mas na localidade deles, eles são reis, chegaram lá - como exclama a mãe da referida personagem quando se depara com sua filha recém-fugida de casa na noite pra cantar funk num baile próximo. A glamourização por parte do pobre é natural, é quando você tem um destaque e um reconhecimento. O problema é quando a mídia olha pra isso e usa pra vender, enaltecendo essa cultura 'nem' como se fosse o maior barato. Não é.

Se preocupar com os rumos que os outros que apenas sonham, mas não chegam ao sucesso ninguém quer, apenas fazer das periguetes e dos 'sou f*oda' mais um produto a ser vendido para aqueles que os têm como estrelas e astros. Não, não sou funkeiro, mas admito que algumas dessas músicas me divertem, enquanto estou bebendo na festinha. Isso faz de mim um descerebrado? Não, porque depois eu volto ao meu normal e sigo a vida. Mas tem gente que não é bem assim, só vê aquele jeito, virando meme na internet e ganhando como pode.

Se não tá nem matando, nem roubando, amigo, eduque seus filhos pra que não achem que aquilo é mais que uma ilusão de respeito e mais uma fonte de trabalho e renda. Não espere que o funk eduque ou deseduque seu filho, mostre o que tem de cultural no mundo pra ele, que ele vai ouvir funk como o que realmente ele é: Entretenimento e diversão. as letras indecentes? Isso tem no forró, no pagode, no sertanejo, no rock... Não vamos fazer má publicidade da coisa agora se não fizemos antes, né? Ou façamos de tudo, mas aí, vão te chamar de politicamente correto, o que é assunto pra outra hora.

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