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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Justiceiros, Fascismo brazuca e a inocência de justiça social humilhando um pivete


Menor com histórico de infrator é espancado e preso nu, pelo pescoço a um poste no Flamengo. Artista plástica que o encontrou – assim como todos nós que prezamos pelas vias judiciais definidas em código legislativo soberano – resistência por parte daquele tipo de conservador que lambe as botas da ditadura, aquele que segue alinha Bolsonaro “bandido bom é bandido morto”.

Bem, Yvonne Bezerra de Melo, que fundou e coordena o Projeto Uerê – escola modelo para crianças e adolescentes com problemas de aprendizados originários de traumas – encontrou o jovem – que aparenta 16 a 18 anos – e chamou os bombeiros. Ao fazer as fotos do rapaz e publicá-las denunciando os maus tratos a um ser humano – que pode ou não ser inocente neste caso, mas quem decide isso não é você ou eu, é a justiça – ela recebeu desaforos e até ameaças.


Isso demonstra como os tais ‘justiceiros do Flamengo’ têm apoio na própria classe social, a elite e sua puxa-saco (ou seria puxassaco?) direta, a classe média, que já usavam a voz do fascismo e do ódio ao pobre em diversos meios de comunicação (com total credibilidade desde o boimate e outros), agora também têm um braço armado com soco inglês, os tais justiceiros. Como eu disse no Facebook, amarrar “bandido” juvenil pé-de-chinelo na marimba e jogar por cima do fio do poste é mole, atacar pitboy em área nobre, quadrilha de estelionatário de condomínio de luxo ou traficante fortemente armado, eles não vão, então, são mais uma extensão do velho hábito de queimar mendigo numa certeza elitista de que ninguém vai se importar. Ninguém comprovou se o garoto estava mesmo praticando NAQUELA HORA algum crime, mas foi alguém se levantar pra defender e a vontade de exterminar o pobre explodiu.

Veja bem, a questão aqui não é defender direitos humanos pra humanos direitos (tenho visto muito conservador fazendo seu papel de replicar o pensamento de seus meios de comunicação engessados), é uma questão de prática. Comprovaram que o jovem tem passagens pela polícia? Ok, mas passagem pela polícia não fez de ninguém um eterno suspeito, do contrário atletas e artistas soltos aí estariam levando dura e cadeado de bicicleta no quengo a cada aparição na TV. Agora, me diz: O que esse ato “simbólico” fez pela segurança pública, além de destilar o ódio ao pobre, ao miserável? Os justiceiros poderiam ir lá até o governador e cobrar um trabalho efetivo da polícia na região do Flamengo? Não, preferem alimentar o ódio cego que faz os imbecis acharem que querer um pouco de justiça é tratar os outros como coitadinho, como se seu ódio é que fosse o natural. Aberrações.

Tenho certeza de que essa tchurminha esnobe estilo “rolezinho é o caralhx, adolescente pobre é vagabundo”, que adora ver a morte de um marginal não pensou nisso. Já veio com o discurso pronto de que tem que matar o meliante, mas não tem cérebro pra pensar na aplicação prática disso sobre a segurança pública. Se isso fosse algum tipo de solução, eu apoiaria, se fosse em confronto com a polícia, eu nunca iria contra a autodefesa, mas foi um ‘arrocha’ pra cima de um garoto, nada que as gangues de valentões de filmes adolescentes estadunidenses não façam. “(...) Eu só ando com a galera e nela eu me garanto / só que quando estou sozinho, eu só ando pelos cantos (...)”. Essa é uma ilustração feita por Gabriel, O Pensador em Retrato de um Playboy, de 1992, acho. Confira mais:

“(...) Não tenho cérebro, apenas me enquadro no sistema
Ser tapado é minha sina, ser playboy é meu problema
Faço só o que os outros fazem e acho isso legal
Arrumo brigas com a galera e acho sensacional
Me olho no espelho e me acho o tal
Mas não percebo que no fundo, eu sou um débil mental”.

Agora me diz, isso vindo de um cara que nasceu em berço de ouro, mas andava com a rapaziada da favela, não foi certeiro? Essa canção me faz pensar naquela minha teoria particular de que politicamente correto é justamente o conservador, que faz e fala tudo que seu mestre mandar. Mestre, entenda por sistema dominante. Se ele fosse contra o sistema, como nós, aí, ele seria INcorreto, pois estaria propondo modificações nos velhos paradigmas.

Bem, a questão é que as pessoas conservadoras, como era de se esperar, reduzem a discussão a algum ponto genérico e acéfalo, a ponto de não chegar a lugar algum. Pra trollar mesmo a conversa, por falta de quórum intelectual de sua parte. Talvez, por saber disso, no fundo do coração, elas se contorçam feito vampiros, diante de uma gorda cabeça de alho, quando alguém tenta explicar que a questão social tem mais camadas. Se tentar contestá-las, prepare-se para uma enxurrada de impropérios do tipo “tá com pena, leva pra casa”, “bota ele pra namorar sua filha” ou “militante de esquerda nojenta” (sobre essa última, eu nem sou filiado a partido político, apesar de saber que o que eu faço também é política... social e não aquele jogo de interesses).

Então, as pessoas vão se tornar a menina do Exorcista quando você tentar levar a conversa para um debate sobre como resolver a criminalidade na Zona Sul carioca ou em qualquer outra região do Brasil, mas eles não têm profundidade intelectual pra isso, lembra? Então gritam, esperneiam e conseguem confundir a defesa pelos trâmites legais e a cobrança da Administração Pública para isso com “peninha de bandido”. Eu não tenho pena de bandido, mas também sei que aquele tipo agredido é bem o que o sistema faz, não é o frio e calculista corrupto, nem é o matreiro golpista, ou a galera organizada que pratica fraudes em você. Pena de morte resolveria? Não, se resolvesse, não haveria criminalidade em diversos países. E matar bandido faria exemplo para  os outros, mas não faz, então não é falta de porrada, nem de tiro, percebe?

Vai adiantar mais a gente cobrar efetivamente policiamento e orientação educacional ou cortar pescoços por aí? Muita gente que se diz pobre – mas é de classe média – é teleguiada inconscientemente a odiar o pobre, só esperando ele fazer uma besteira pra dizer “olha lá, tem que morrer mesmo”. Agora não se fala em “SOMOS TODOS HUMANOS”, começa uma cagação de regra sobre o que é humano direito, vindo de gente que, com certeza, já praticou alguma merdx por aí. Seja um adultério, um uso de algo ilegal (drogas, produtos piratas), já desejou o mal a alguém, já deixou de ajudar um necessitado, enfim... Quem decide quem é direito? O critério é apenas a independente opinião da grande mídia? Quem vigia os próprios vigilantes? Quem julga os justiceiros?

Continuamos a acender uma vela pra deus e outra pro diabo, quando se critica o governo por não atender ao pobre, mas deseja-se a morte desse pobre, quando não anda na linha. Nenhum morto em favela tem ficha limpa, já repararam? Até que se comprova depois a inocência de alguns, mas aí, a tática Veja de “melhor pedir desculpas do que pedir permissão” já faturou uns trocados sobre o sangue do pobre. A quem interessa que o pobre vá para o presídio ou para a cova cada vez mais jovem? Redução de idade penal? Resolve a criminalidade também? Cadê o Amarildo? O genocídio pelo gene social da pobreza está acontecendo, então eu te pergunto: O fascismo naturalizado do brasileiro está surgindo, ou só ficando visível?


Aí, eles vêm com o papo de que ninguém chora a morte de policiais, ou outros trabalhadores. Caras, que babaquice! Claro que se mobiliza também, mas também não se vê esse povo fascista lá. Isso porque só falei no âmbito do fascismo, se eu falasse a palavra R, ia ter mais gente vindo só pra desqualificar isso, como se eu não percebesse as tentativas de se desviar da visão ampla da coisa. E o pior, é que tem um monte aí que adora O Rappa, por exemplo, Bob Marley, Plebe Rude e mais inúmeros artistas que cantam a necessidade de justiça social, mas estão cuspindo fogo nesse momento pra que se extermine, pegue, mate e esfole a pivetada. Analistas do nosso sistemas, huh?

Nota de última hora: Raquel Shaerazzade falou mesmo que o acontecido foi um símbolo de autodefesa coletivo? Caras, essa moça é o Gentilli do jornalismo... Agora que o SBT tem os dois em seu cast, bem que poderiam combinar de um deles usar voz de homem pra destilar seus preconceitos. 


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